Sob Pressão: Como Manter a Saúde Mental Durante a Campanha Eleitoral

Durante o período da corrida eleitoral, os níveis de estresse são altíssimos e o desgaste emocional e mental dos políticos tende a atingir níveis críticos e preocupantes. A pressão constante, as longas jornadas de trabalho e as decisões complexas colocam a saúde mental desses profissionais (e de todos a sua volta) à prova. A fim de entender melhor esse complexo cenário, entrevistamos o Dr. Augusto Goldoni, psicólogo, psicanalista, consultor e escritor, especializado em comportamento humano.

Veja a seguir, dicas práticas e estratégias para sobreviver ao estresse da campanha eleitoral e como as figuras públicas podem se preparar melhor para enfrentar essas adversidades.

AUGUSTO GOLDONI – psicanalista, psicólogo (USP-SP), consultor e escritor

Pergunta: Durante uma campanha eleitoral, quais são os principais desafios emocionais que os políticos enfrentam?

Dr. Augusto Goldoni: Durante a campanha, o político enfrenta uma série de desafios que vão além da política em si. A pressão intensa que caracteriza esse período coloca o candidato sob constante vigilância, tanto do público quanto da mídia. Ele precisa estar preparado para responder prontamente a qualquer questão, enquanto lida com críticas e ataques pessoais. Esse cenário cria um ambiente de estresse elevado, exacerbado pelo medo do fracasso, que pode impactar profundamente a autoestima e a saúde emocional do candidato. A sensação de carregar nas costas as expectativas de um grande número de pessoas apenas intensifica esse fardo emocional.

Pergunta: Como essa pressão constante pode impactar a saúde mental de um político?

Dr. Augusto Goldoni: Concorrer a um cargo público, especialmente nos dias atuais, é provavelmente uma das atividades mais estressantes em que uma pessoa pode se envolver. O ambiente da campanha é agitado e turbulento, onde obstáculos podem surgir de qualquer direção e não há espaço para erros. Essa pressão constante pode desencadear problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e burnout. A ansiedade pode ser alimentada pela incerteza em relação ao resultado da eleição, pelo receio de cometer erros em público e pela necessidade de tomar decisões importantes sob pressão. A depressão pode surgir como resultado do isolamento social inerente à vida política, do cansaço físico e mental e da sensação de falta de compreensão ou apoio. Já o burnout é uma ameaça real e próxima para os candidatos devido à carga absolutamente extraordinária de estresse, pressão, preocupações, funções e agenda que enfrentam. O burnout surge como consequência das longas jornadas de trabalho, falta de descanso adequado, privação de sono e a necessidade de estar sempre alerta. Esses problemas não apenas afetam a saúde do político, mas também sua capacidade de tomar decisões equilibradas.

Pergunta: Quais são as consequências de ignorar a saúde mental durante a campanha?

Dr. Augusto Goldoni: Um estudo do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar revelou que o estresse excessivo pode reduzir a expectativa de vida em até 2,8 anos para homens e 2,3 anos para mulheres. Já uma pesquisa da Universidade de Yale aponta que o estresse prolongado pode acelerar o envelhecimento e aumentar o risco de doenças graves. Negligenciar a saúde mental pode ter consequências graves, tanto para o político, para aqueles que estão à sua volta e até mesmo para a campanha. O estresse e a exaustão podem resultar em decisões impulsivas, alterações de humos, dificuldades na comunicação e até erros de julgamento que podem comprometer seriamente a imagem pública do candidato. A longo prazo, problemas de saúde mental não tratados podem se transformar em condições crônicas que impactam tanto a carreira quanto a vida pessoal. Além disso, a falta de atenção à saúde mental pode criar um ciclo vicioso, onde o político se sente cada vez mais incapaz de lidar com a pressão, culminando em um colapso emocional que poderia ter sido evitado com as devidas precauções.
Também é importante lembrar que o principal instrumento de trabalho de um político é a sua voz. Durante a campanha, esse instrumento não só se torna ainda mais imprescindível, como também é utilizado à exaustão, o que pode levar a problemas vocais que, em conjunto com o desgaste emocional, agravam ainda mais o estado de saúde.

Pergunta: Como a família e a equipe de campanha podem contribuir para o bem-estar emocional do político?

Dr. Augusto Goldoni: O suporte da família e da equipe de campanha desempenha um papel crucial. A família pode oferecer um ambiente seguro e acolhedor, onde o político se sinta livre para expressar suas preocupações sem receio de ser julgado. A equipe de campanha, por sua vez, pode aliviar parte da carga de trabalho, garantindo que o candidato tenha tempo para descansar, se alimentar bem e cuidar de sua saúde mental. Além disso, a equipe deve estar atenta aos sinais de estresse excessivo, incentivando o político a buscar ajuda quando necessário. Uma comunicação clara e eficaz entre todos os envolvidos é fundamental para priorizar o bem-estar do político.

Pergunta: O que pode ser feito para prevenir esses problemas de saúde mental durante a campanha?

Dr. Augusto Goldoni: Fatores imponderáveis ou inesperados, como grandes mudanças na opinião pública, pode transformar a pressão intensa em algo que afeta diretamente a saúde física e mental, especialmente quando os candidatos sentem que têm pouco controle sobre os acontecimentos. Para evitar esses problemas de natureza emocional, é fundamental que o político reconheça a importância de cuidar da saúde mental. Identificar os sinais de alerta e buscar ajuda profissional quando necessário são passos essenciais. Além disso, adotar uma rotina que inclua pausas para descanso e atividades
de relaxamento, como meditação, exercícios físicos e momentos de lazer com a família, pode ajudar a manter o equilíbrio. Delegar tarefas é igualmente importante para evitar sobrecarga, assim como manter uma rede de apoio confiável, composta por amigos, familiares e profissionais de saúde mental. Resumindo, é importante e necessário que se encontre um equilíbrio entre a dedicação à campanha e o cuidado pessoal.

Pergunta: Qual é a importância do autoconhecimento para lidar com a pressão de uma campanha?

Dr. Augusto Goldoni: Liderança eficaz começa com autocuidado. Sem saúde mental, não há liderança sustentável. Quando um político entende seus próprios limites, vulnerabilidades e pontos fortes, ele está mais preparado para enfrentar os enormes desafios de uma campanha eleitoral. Esse conhecimento permite que ele reconheça os primeiros sinais de estresse e tome medidas para controlá-lo antes que se torne um problema maior. Além do mais, ao conhecer a si mesmo, o político pode usar suas habilidades de forma mais eficaz, comunicando-se melhor e tomando decisões mais equilibradas. Portanto, o autoconhecimento é uma ferramenta poderosa para manter o equilíbrio emocional em momentos de grande pressão. Nesse sentido, a ajuda de um psicólogo especializado, não é apenas interessante, mas necessária na maioria dos casos.

Pergunta: Para finalizar, que dicas você daria aos políticos que estão em campanha eleitoral?

Dr. Augusto Goldoni: No meio da tempestade eleitoral, encontrar a calma interior é a chave para tomar decisões sábias. Minha principal recomendação é que a saúde mental seja tratada com a mesma seriedade que a campanha. Manter o equilíbrio emocional e psicológico não é um luxo, mas uma necessidade para exercer a liderança de forma eficaz. Se a pressão começar a se tornar insuportável, é crucial buscar apoio profissional. Além disso, é importante estabelecer uma rotina que inclua períodos de descanso e atividades que ajudem a desconectar, sem negligenciar as relações pessoais, que são fundamentais como fonte de apoio e estabilidade. A campanha, sem dúvida, é significativa, mas é a saúde mental que garantirá que o político esteja em sua melhor forma, tanto durante o processo eleitoral quanto após o seu término.

“A campanha pode terminar em vitória ou derrota, mas preservar sua saúde mental é o que lhe permitirá continuar lutando pelo que você acredita.”

RESUMO:

Saúde Mental e Equilíbrio Emocional: São fundamentais para que qualquer político atravesse uma campanha eleitoral de forma eficaz e sustentável.

Mais do que Estratégias Políticas: Além de campanhas bem elaboradas e marketing persuasivo, o cuidado com o bem-estar pessoal é o que determina a resistência e o desempenho de um candidato.

Preparação Além do Profissional: Enfrentar pressão constante, imprevistos e críticas com clareza e serenidade requer um compromisso com o autocuidado e o desenvolvimento de uma rede de apoio sólida.

Ambiente que Prioriza a Saúde Mental: Criar um ambiente que valorize a saúde mental é uma necessidade individual e uma estratégia essencial para garantir decisões ponderadas e lideranças fortes.

Resistência e Liderança com Integridade: O equilíbrio interno permite ao político não apenas resistir ao desgaste da campanha, mas também liderar com integridade e eficácia, inspirando confiança e respeito.


AUGUSTO GOLDONI – psicanalista, psicólogo (USP-SP), consultor e escritor.